terça-feira, 17 de novembro de 2009

Um homem chamado Josino

Ele era mulato. Mulato, de olhos verdes. Cantava como um pássaro, jogava futebol feito um craque, nadava como um peixe, tinha voz de locutor...Tantos predicados para um homem tão comum. Este era meu pai.
Tento recompor a história de amor que se deu entre ele e minha mãe. Ela, loura, de olhos azuis, normalista, apaixonou-se por aquele homem que representava a transgressão: um mulato, cantor e jogador de futebol. Os tempos eram outros, e minha mãe sentiu o preconceito que sofreria com sua escolha. Enfrentaram juntos e assim permeneceram...
Meu pai era nadador de excelência. Criado à beira do rio, cortava de canto a canto o rio Muriaé, que àquela época era caudaloso e mau.
Com ele aprendemos a nadar ( mas não mantivemos o aprendizado...). Colocava-nos, um por um, nas costas, atravessava o rio e deixava-nos, de mãos dadas, num areal que ficava a poucos metros da nossa casa. Eram dias divertidos aqueles.
Me lembro de um dia ter ido com mamãe assistir ao maior espetáculo da minha infância: da ponte de cimento (nome dado à ponte que separava o centro do bairro Niterói; a outra, com trilhos de madeira e ferro, era para o trânsito do trem) ver papai pular da mureta de segurança num pequeno poço que se formava no rio. As pessoas se aglomeravam para ver a cena. Ele, de calção de banho; ela, de mãos dadas comigo e minha irmã. De repente o salto. Num mergulho de ponta, papai afundava no rio. Sentia a respiração de minha mãe suprimir-se. E ele sumia nas águas do Muriaé... Os minutos pareciam horas. E ele aparecia, muito longe. Assim que colocava a cabeça fora da água, acenava-nos e jogava um beijo pra mamãe! Acho que em Hollywood, nos famosos filmes românticos, nunca houve uma cena mais comovente e romântica!
Ela sorria, nós também e as pessoas aplaudiam.
Meu pai foi durante muito tempo meu único herói. Sem armaduras, este paladino recheou minha infância de doces recordações.