Estudei no Grupo Escolar Buarque de Nazareth, hoje, Colégio Estadual Buarque de Nazareth. Morava na General Osório e atravessava a ponte de ferro todos os dias em direção à escola.
No começo, minha mãe ia comigo. Eu chorando e ela me arrastando pelo caminho. Que pavor eu tinha da escola! Eu queria morrer, desaparecer...Não sei até hoje explicar tal rejeição. Era uma mistura de medos, do insucesso e do abandono. Afinal, minha mãe ia embora e eu ficaria à mercê de um mundo que eu não conhecia.
Nos priemiros dias , ela sentava-se na sala comigo, até que eu parasse de chorar. Como a situação prolongava-se, um dia ela me deu o ultimato: Ou você fica, ou vai apanhar!Fiquei. Que escolha!?
E o tempo foi passando e eu fui conquistando minha segurança. E vieram D. Maria José Barreto e seu falar carinhoso - sei hoje que ela tinha os olhos da Cecília Meireles, calmos, fundos e muito delicados; D. Elba, essa tinha um quê de mistério: levava-nos a sua casa; em sala, penteávamos seu cabelo, ou seja, oferecia-nos uma proximidade que para mim era a verdadeira intimidade familiar. Um dia chegou D. Celina Sílvia. Recém-casada com um médico, ela era a pura expressão da beleza. Linda, linda, linda! Me lembro de ela ter perdido o pai. Nos primeiros dias, quando voltou ao trabalho, ia de preto, do vestido às meias (as mulheres, naquela época guardavam luto também no vestir, e não fosse pela dor, ficavam elegantérrimas!). Mais adiante , encontrei-me com D. Eny. Mulher de fibra, brava, ensinava-nos Matemática com potência, as operações matemáticas, em especial, a divisões (Será que alguém neste mundo sabe fazer uma divisão com os pés nas costas? Porque eu nunca tive a habilidade. Graças a Deus vieram as calculadores para me redimir!).
E como o mundo é pequeno, gira, vai e traz de volta tantas emoções, lá sou eu convidada para fazer uma pequena palestra, na minha insipiência de mestre em aprendizado constante, no Buarque.
Quando entro na escola, sinto a emoção explodir e me invado em lágrimas ao ver estampado no corredor central da escola um quadro, destes de formatura, com meu retrato: eu havia chegado a oradora da quarta série. Já na sala em que iria ocorrer o encontro, os professores sentados me aguardando, eu recebida com muita diligência, vejo entre eles D. Anete Pegorin, minha ex-professora nesta mesma escola. Chorei um pranto de alegria e de saudade!
Novamente o mundo gira, e eu reencontro anos depois, professora de curso de graduação, D. Eny, como aluna. Este encontro nos rendeu uma matéria no jornal e a sedimentação da amizade, do respeito, da troca.
Fiz carreira no magistério porque tive o melhor dos espelhos, minha mãe. Mas não posso me esquecer de que tive excelentes professoras naquele primeiro momento da vida escolar, que contribuíram de maneira efetiva para minha formação ético-profissional.
A elas, com carinho e com afeto, dedico esta crônica.