Durante a minha primeira infância, convivi muito de pertinho com minha avó paterna. Quando eu tinha seis meses de idade, minha mãe, aprovada em concurso para o Magistério oficial - ainda que classificada entre os primeiros - foi trabalhar em São Pedro D'Aldeia, deixando-nos, minha irmã e eu, com papai. Minha irmã com três anos ficava aos cuidados do papai, e eu fui morar minha avó paterna. Fidelina de batismo, vovó era uma mulher forte, negra e cega. Mas, apesar da cegueira, dava ordens e todos a obedecíamos.
Vovó Fiota, como era conhecida, morava no bairro Aeroporto, conhecido naquele tempo como Reta. Sua casa, dividida ao meio, abrigava a filha Amélia e seu marido, tio Nílson. Na outa medade, moravam vovó e seu marido, meu avô por empréstimo, João.
Os dias da minha infância, até pelo menos os nove anos, eram um ir e vir: de casa para casa da vovó. Lá eu reinava absoluta: quando a Fiinha chegava, não havia espaço para mais ninguém. Eu me sentia uma rainha!
Vovó Fiota passava muito tempo sentada numa pequena varanda nos fundos da casa. Esta varanda dava para um pequeno pomar repleto de pés de lima; uma pequena horta; um coqueiro bem alto; uma cacimba, de onde recolhiam a água; galinhas; um amontoado de lenhas, que eram rachadas pelo meu avô, sempre que chegava do trabalho. Ela me punha no colo, eu deitava sobre suas pernas, pendia a cabeça e no balanço lento das suas coxas via o mundo de pernas para o ar. A imagem daquele céu azul da minha infância, a sensação do vento manso e as horas calmas das tardes estão grudadas nas minhas retinas e na minha memória.
Vovó Fiota, como era conhecida, morava no bairro Aeroporto, conhecido naquele tempo como Reta. Sua casa, dividida ao meio, abrigava a filha Amélia e seu marido, tio Nílson. Na outa medade, moravam vovó e seu marido, meu avô por empréstimo, João.
Os dias da minha infância, até pelo menos os nove anos, eram um ir e vir: de casa para casa da vovó. Lá eu reinava absoluta: quando a Fiinha chegava, não havia espaço para mais ninguém. Eu me sentia uma rainha!
Vovó Fiota passava muito tempo sentada numa pequena varanda nos fundos da casa. Esta varanda dava para um pequeno pomar repleto de pés de lima; uma pequena horta; um coqueiro bem alto; uma cacimba, de onde recolhiam a água; galinhas; um amontoado de lenhas, que eram rachadas pelo meu avô, sempre que chegava do trabalho. Ela me punha no colo, eu deitava sobre suas pernas, pendia a cabeça e no balanço lento das suas coxas via o mundo de pernas para o ar. A imagem daquele céu azul da minha infância, a sensação do vento manso e as horas calmas das tardes estão grudadas nas minhas retinas e na minha memória.
Entretanto, dois momentos eram especiais: o acordar e ver pelas frestas das telhas a luz do sol, e a hora da refeição - num prato de alumínio, comíamos juntas, minha vó e eu. Ela colhia a comida com o garfo para si, e no cabo do utensílio para mim. "Come, Fiinha, pra você ficar gordinha". Com estas palavras ela ia me alimentando, cuidando de mim, me escolhendo a predileta.
Minha avó, quando moça, dizem ter sido muito atraente. Inteligente, dava para ver. Quando nova, gostava de estudar química, de ler. Entretanto, acometida de glaucoma, aos poucos foi perdendo a visão. Foi uma trangressora. Apaixonou-se diversas vezes. Teve quatro filhos com três maridos diferentes. O último, João, deu-lhe a única filha e assumiu, em especial, meu pai como filho. Lindo, louro, de brilhantes olhos azuis, meu avô, que era carroceiro, parecia um ator de cinema.
Convivi pouco, mas intensamente com ela. Ouvia suas histórias, e muitas me fizeram ser a mulher que sou. Aquela que "fidelinamente" vai devastando as florestas do querer: incontida, repleta, perceptiva, mulher.
Minha avó, quando moça, dizem ter sido muito atraente. Inteligente, dava para ver. Quando nova, gostava de estudar química, de ler. Entretanto, acometida de glaucoma, aos poucos foi perdendo a visão. Foi uma trangressora. Apaixonou-se diversas vezes. Teve quatro filhos com três maridos diferentes. O último, João, deu-lhe a única filha e assumiu, em especial, meu pai como filho. Lindo, louro, de brilhantes olhos azuis, meu avô, que era carroceiro, parecia um ator de cinema.
Convivi pouco, mas intensamente com ela. Ouvia suas histórias, e muitas me fizeram ser a mulher que sou. Aquela que "fidelinamente" vai devastando as florestas do querer: incontida, repleta, perceptiva, mulher.
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