quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Com açúcar, com afeto

Em cima do apartamento em que morávamos, lá na General Osório, havia três pontos comerciais: o armazém do tio Edinho, a sorveteria do Seu Itamar, a farmácia do Seu Lourival.
Tio Edinho era um homem baixo, atarracado, calvo, bravo e bom. Ajudava minha mãe, quando ela saía para trabalhar, a cuidar de nós cinco, como toda a vizinhança, carinhosamente , fazia.
Arroz, açúcar, corda, fumo, bacalhau, carne seca, farinha, feijão...compunham o armazém, que guardava cheiro forte e indescritível. E nós nos deliciávamos com aquela mistura exótica que tio Edinho nos oferecia: num cone de papel ordinário misturava meio a meio açúcar e farinha grossa, que íamos despejando boca adentro...
A sorveteria de Seu Itamar chamava-se "Imperial". Ele, junto com dona Carola, fabricavam os sorvetes e picolés. Os dois e seus três filhos moravam nos fundos da loja. A sorveteria era bem moderna: mesas e cadeiras, piso quadriculado e balcões de mármore.
Em dias quentes de verão, papai mandava-nos comprar picolés, de sabores sortidos, que eram colocados em um canecão! Delícias da infância! Nós todos na longa varanda em tardes de verão nos deliciando com os picolés de Seu Itamar, enquanto os sol deixava estrelas brilhando nas águas do rio...
Seu Lourival era um velho alto, grisalho e branco, muito branco. Parecia um alemão. Ele sua esposa atendiam na farmácia. Me recordo de como gostavam de meu irmão abaixo de mim. Carinhosos, estavam sempre dispostos a um agrado.
Houve uma época em que tivemos uma furunculose. Cada um num lugar do corpo. Ninguém, escapou, do papai ao caçula. Nos dias de injeção, medicamento imprescindível para a cura do mal (como doía!), lá vinha Seu Lourival e sua caixinha metálica com as "benditas" dentro. E a fila: papai, mamãe e aqueles que tivessem mais coragem! Seu Lourival passou de Papai Noel a Lobo Mau, rapidamente.
Perdemos os três, de vista e pela morte. Tio Edinho, perdemos pela morte vil, infame e cruel. Tomara que a Seu Itamar e Seu Lourival, ela tenha sido mais indulgente.
Guardo na memória a imagem inesquecível destes três mosqueteiros da minha infância.

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