quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Cuquinha

O menino nasceu Augusto. Mas para nós, minha irmã e eu, ele era o Cuquinha.
A descoberta da gravidez do quinto filho deve ter sido uma surpresa para mamãe e papai, ainda mais em espaço tão curto de tempo: a mais velha com nove anos e o caçula com dois anos e e meio. Minha mãe era boa parideira, estava provado.
Àquela época, morávamos na rua General Osório, no prédio do Seu Tindó, homem elegante, amigo de minha mãe. Dele não me lembro, acho que morreu quando a mais velha lá de casa tinha apenas dois anos.
O prédio tinha apartamentos térreos que desembocavam na beira do rio Muriaé, com bela vista para a ilha. Não fosse pela localização - um corredor que abrigava pelo menos mais quatro apartamentos e que era utilizado pelos outros moradores para acesso às suas moradias - teríamos vista exclusiva.
A hora da chegada do bebê se aproximando. E papai sério " se for menino, jogo no rio". E nós, minha irmã e eu, implorávamos para que ele não cometesse tal desatino. Mal sabíamos nós, na nossa inocência, o quanto ele devia se deliciar com nossa preocupação. Mamãe ralhava: Ora, Nininho, não faça assim com as meninas!
Chegado o dia. Me lembro de a mamãe ter entrado em trabalho de parto antecipadamente: a notícia da perda de uma sobrinha de apenas quatro anos fez com que ela sentisse as dores do parto e fosse levada para a amternidade.
E ele chegou: lindo, louro e de indescritíveis olhos azuis!
A imagem de minha mãe chegando com ele no colo jamais sairá da minha memória. Ela, em robe alcochoado, descia as escadas levada no colo pelo papai, e eu e minha irmã aflitas com a promessa...Olha, que lindo! Ele é um "cuquinha"!
O menino nasceu Augusto. Mas para nós será sempre Cuquinha.

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